As minhas avós...
Tenho três para lembrar... uma delas continua aqui!
Diferente da maioria das crianças que passa férias no interior na casa das avós, eu fazia o trajeto contrário...
Minhas avós moravam na capital... era para lá que eu ia nas minhas férias.
Minha bisa: Figurinha delicada, de lencinho no pescoço e "camafeu". De crochês de linha finíssima, da conversa paralela, da qual não participava - desde que me lembro, já estava surda- e especialmente da "reunião" em torno dela. Domingo era dia de D. Diva, quem estivesse na cidade passaria lá para o café da tarde: filhos, netos, bisnetos... e todos mais. Nunca lembro dela como a figura da velhinha solitária. Comentávamos isso eu e minha mãe, dia desses... Deste ritual, participávamos sempre que estávamos por lá.
E, se ia com minha vó -filha desta primeira- iámos de "táxi"... o que já era uma festa... Como era tudo nas férias na casa desta vó que se "modernizava". Sua casa era limpa, cheirosa, organizadíssima... cheia de coisas gostosas nos armários. Nada muito feito em casa, ela já não era mais uma mulher de fazenda que fazia marmelada em tacho de cobre. Era uma viúva, morando na capital... que sabia aproveitar as coisa boas da vida. Lembro das voltas das suas viagens, sempre cheia de presentes, das idas ao supermercado - maiores do que os que eu estava acostumada - dos chocolates, das laranjas na frente da tv.... dos tricôs, dos crochês, das costura.... essa "inteligência manual" - que adoro dizer que herdei dela. Do nariz torcido - que minha filha repete - quando não gostava das coisas. Até sua "resmunguisse" era engraçada. Foi uma participação eterna na minha vida... sempre por perto! Com ela, minha primeira viagem de avião, meu primeiro cigarro aceso em público. E minha primeira grande perda...
E, lá na capital, ainda tinha mais uma vó. Essa morava no nono andar... para mim que sempre morara "rés do chão" era o máximo... Aquele negócio de pegar elevador até para ir na padaria era novidade...
Da sua casa lembro de ser sempre ensolarada... com um vista lindíssima de telhados que me lembravam os romances de M. Delly - herdados da vó de cima. De comidas saborosas - isto está parcendo uma crônica gastronômica - dos almoços em que chegavam os filhos que trabalhavam no "centro"... lembrem, estamos na cidade grande. Do cálice de vinho do meu avô. Das colchas de crochê coloridas, confesso: até hoje sonho com uma....
E minha mãe... avó dos meus filhos, uma vó sempre presente, advogada de defesa eterna... eles sabem disso e prá lá correm quando a coisa aperta...
Acho que se tivesse que fazer uma síntese das minhas avós... seria Porto Alegre, essa que talvez nem exista mais: O Bom Fim... a Padaria Santa Izabel, a Redenção, a Francisco Ferrer... aquelas mercearias que vendem de tudo, nestas esquinas que só lá tem... uma venda de galinha viva em plena Ramiro Barcelos... Tudo isso pela mão da vó... apertada para atravessar as ruas, quando criança... depois sozinha... com amigos... e com meu menininho nos anos 80... Mas sempre com ela por perto...
E os avós?... esses fica para outro dia!